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Plantas não convencionais ganham espaço na mesa dos brasilienses

Plantas não convencionais ganham espaço na mesa dos brasilienses

19/06/2017

Na capital do Brasil, o manuseio com a terra por quatro garotas tem chamado atenção. Daniela Messias, Layane Carvalho, Mayara Jacob e Bruna de Oliveira propõem uma mudança na alimentação com as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). Elas são responsáveis pelo projeto Refazenda, criado há dois anos, durante o estágio sobre hortaliças, do curso de Ciências Ambientais.
Mas, o que são as PANCs? O termo inclui folhas, flores, rizomas, sementes, frutas e outras partes das plantas que crescem espontaneamente em diversos locais e, algumas vezes, são confundidas com ervas daninhas. As PANCs podem ser consumidas pelo homem, tanto in natura como depois do preparo culinário.
E por que as meninas escolheram esse tipo de manejo e cultivo? Layane explica que surgiu o desejo de resgatar o que viveu na infância, criada no meio rural. “Vejo muito potencial nessas plantas, tanto em âmbito social, econômico e ambiental. Através do nosso projeto, a gente tenta trazer as práticas da fazenda e levar para os centros, estimulando a agricultura urbana. Hoje, percebo como a cobertura do solo com a diversificação das espécies é essencial”.
Bruna de Oliveira, a nutricionista do grupo, ressalta como a multiplicação de mudas alcança um maior número de pessoas. “Estudos mostram as PANCs como estratégia de combate à pobreza e como manutenção da segurança alimentar e nutricional. O trabalho é uma oportunidade de apresentar a nossa biodiversidade para que as pessoas tenham acesso ao alimento”, afirma. O projeto acontece na fazenda do avô de Layane, no entorno de Brasília, e também em uma horta comunitária da Asa Norte. Ganhou o nome de Refazenda, porque a terra estava abandonada quando elas deram início à recuperação do solo.
Toda semana, as quatro se reúnem para seguir com a produção e, quinzenalmente, participam de uma feira. Além do cultivo e venda das mudas, elas também fabricam produtos a  base das PANCs. “A gente trabalha nas feiras e por encomendas. Nossa produção não usa conservantes químicos e tenta fabricar tudo natural. O trabalho é dividido entre cultivo, colheita, preparo e beneficiamento. Criamos receitas variadas para as pessoas terem o contato com diferentes sabores e isso vem surpreendendo”, conta Mayara.
Ora-pro-nobis, chaya, serralha, almeirão roxo, jurubeba, sálvia peixinho e caruru são os nomes de algumas das plantas. Quanto ao preparo culinário, os produtos que mais saem são as pastas feitas à base de biomassa com banana verde e temperos de plantas; requeijão feito com inhame e tempero de capuchinha; rapadura vegana feita de capim limão; coração da bananeira refogado e pudim de inhame com coco. Além desses, pães e bolos diversos também estão entre os queridinhos. Algumas PANCs também são procuradas para propriedades medicinais.
Quando a palavra é futuro, Daniela se manifesta pelo grupo: “Estamos planejando cursos e oficinas para plantar, preservar e multiplicar essa produção que envolve estar em equilíbrio com as pessoas e com o meio ambiente. Espero que a gente consiga essa inclusão de forma agroecológica como resposta ao caos que vivemos”.
As PANCs estão em rotas turísticas, feiras orgânicas em todo o país e listadas na internet. Layane conta que elas já pegaram várias vezes as plantas com agricultores familiares. “Não acreditamos na agricultura moderna, de larga escala. Então, buscamos esses núcleos para apoiar essas pequenas produções, desenvolvendo a agricultura urbana. Por meio dela, a gente traz para as cidades um conhecimento que é do interior”.
A relação das PANCs com a agricultura familiar e urbana
As PANCs costumam ser rústicas, se adaptam ao clima, têm pouca necessidade hídrica, baixa exigência do solo e agrotóxicos não são necessários para o crescimento das mudas. Elas têm manejo e cultivo fácil. São extremamente importantes para a variação de dieta, sendo muitas vezes mais nutritivas que os alimentos convencionais. Além de equilibrar a alimentação, também promovem soberania alimentar e o empoderamento de agricultoras e agricultores de menor escala. Essas bandeiras são defendidas pela Secretaria Especial de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead), que estimula o desenvolvimento da agricultura familiar e urbana.
Fonte: MDA