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Perigo imperceptível

20/01/2012

 Jornalista(s): Maria Cristina Sebba Professora, é doutora em ciências da saúde
Em tempos de culto ao corpo e preocupação excessiva com o visual, a bulimia, tipo de transtorno alimentar que chama menos a atenção que a anorexia, começa a preocupar, em maior escala, médicos e especialistas. Nos Estados Unidos, de 0,5% a 1% das mulheres são anoréxicas, enquanto de 3% a 4% são bulímicas.
Trata-se de transtorno quase invisível. A pessoa não emagrece drasticamente e geralmente mantém o peso. A bulimia caracteriza-se por grande e rápida ingestão de ALIMENTOS com sensação de perda de controle, os chamados episódios bulímicos, acompanhados de métodos compensatórios inadequados para o controle de peso, como vômitos autoinduzidos, uso de medicamentos (diuréticos, inibidores de apetite, laxantes), dietas e exercícios físicos.
A principal característica psicológica da bulimia é a preocupação com o peso e com a forma física. Por ser reflexo de uma preocupação com o corpo, o distúrbio parece afetar mais as mulheres. Para cada grupo de 10 búlímicos, nove são do sexo feminino e um do masculino. Como o distúrbio nem sempre é visível para as outras pessoas, o bulímico só procura tratamento depois de aparecerem algumas complicações como insuficiência renal, dor abdominal, gastrite, esofagite, irregularidade menstrual, hipertrofia de glândulas parótidas decorrente dos vômitos.
A bulimia difere da anorexia pelo peso normal. Não há o desejo incontrolável de EMAGRECER. Também não há distorção de imagem intensa como ocorre com os anoréxicos. Habitualmente o início da doença é um pouco mais tardio que a anorexia, ocorrendo comumente no final da adolescência e no início da idade adulta, não havendo distinção de aparecimento nas diferentes classes sociais.
É difícil estimar a incidência exata do transtorno de bulimia, pois muitos não se consideram doentes ou ocultam seus sintomas por vergonha, com isso havendo menos dados da população como um todo. A partir dos anos 1980, começou a haver crescente interesse pelos transtornos alimentares como anorexia e bulimia. Esse interesse surgiu no meio científico e no público de maneira geral, com o aumento da divulgação pela mídia, a ocorrência em celebridades e a maior valorização da aparência física.
Houve aumento de conscientização desses transtornos, refinamento da capacidade de diagnóstico e dos métodos de tratamento. O contexto cultural influencia os modelos e os ideais individuais, criando pressão para que as pessoas se adaptem a determinados padrões. Hoje cresceu de importância como fator de avaliação da mulher. A mídia veicula para a mulher a mensagem de que beleza, felicidade e autovalor associam-se a um corpo magro. As mulheres procuram se adequar a esse padrão de beleza para serem aceitas e respeitadas.
Além da influência sociocultural, há evidências dos fatores familiares, biológicos e psicológicos. Com a valorização da magreza, o bulímico pensa ter descoberto a forma ideal de manter o peso sem restringir os ALIMENTOS que considera proibidos. A progressão, todovia, é uma catástrofe. Após o vômito, surge a sensação de estar fazendo algo fora do normal. Sente-se ansioso, culpado e com piora na autoestima, o que o faz retomar a DIETA às vezes de forma mais intensa por acreditar erroneamente que detém o controle sobre o processo.
Ao aumentar a restrição, facilita novos episódios bulímicos, pioram os vômitos, a ansiedade e a autoestima, um círculo vicioso. A
atual discrepância entre formatos ideais e reais fez com que a angústia associada à aparência aumentasse, tornando as mulheres bastante inseguras com o próprio corpo. Há estudos mostrando a insatisfação das mulheres com o corpo a partir de seus 13 anos. A preocupação social obsessiva com aparência, associada à ideia de que, para ser considerada fisicamente atraente e socialmente aceitável como mulher, ela deve ser magra.
O tratamento adequado de bulimia deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, com atendimento psiquiátrico, psicológico e nutricional, inicialmente. Uma das metas inclui a regularização do padrão alimentar, a suspensão de práticas purgativas, restritivas e a orientação nutricional, além do tratamento psicológico e psiquiátrico.

Autor: CORREIO BRAZILIENSE – DF