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SISVAN: só 26% das crianças no Brasil têm café, almoço e jantar, diariamente

SISVAN: só 26% das crianças no Brasil têm café, almoço e jantar, diariamente

17/11/2021

Mais de 3 mil de 0 a 9 anos morreram de desnutrição em 2021.

A notícia é nova e causa espanto. Apenas 26% (1 em cada 4) das crianças de 2 a 9 anos têm café da manhã, almoço e jantar todos os dias no Brasil. A informação foi veiculada na segunda-feira (15), no Jornal Hoje, da TV Globo, com base em dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) do Ministério da Saúde.

O SISVAN monitora a situação alimentar e nutricional da população atendida nos serviços de Atenção Básica no Brasil. Ou seja, monitora famílias atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente nas Unidades Básicas de Saúde (UBS).

A matéria também informa o agravamento do quadro. Em 2015 eram 76% as crianças que faziam as três principais refeições ao dia. Em 2016, a porcentagem caiu para 42%. Em 2017, passou para 46% e, em 2018, subiu para 62%. Já em 2019, desceu para 28%. No ano passado, alcançou o patamar mais baixo nos últimos seis anos: 21%.

Para o nutricionista Élido Bonomo, presidente do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), o quadro apontado pela reportagem é “o resultado da atual crise econômica pela qual passa o Brasil, com o desemprego em alta, enfraquecimento das políticas públicas de alimentação e nutrição e do desmonte dos programas sociais”.

“Todos os cidadãos e cidadãs ficam indignados ao ler uma notícia dessas. E nós, nutricionistas, que temos como missão em nosso juramento profissional a promoção da saúde das pessoas, ficamos ainda mais sensibilizados. Por isso, o nosso papel é cobrar dos governos as soluções para esses problemas de forma urgente. O Brasil já saiu do mapa da fome uma vez e, por isso, temos instrumentos para fazê-lo novamente”, declara Bonomo.

QUALIDADE DA ALIMENTAÇÃO

Os números apresentados pelo SISVAN também são preocupantes quando falamos sobre a qualidade do alimento que é consumido pelas famílias no Brasil. A quantidade de crianças que ingere alimentos ultraprocessados (85%) é superior à quantidade que consome frutas (77%) e verduras (66%), por exemplo. Esses indicadores se mantiveram estáveis nos últimos anos — ou seja, a ingestão de biscoitos, macarrão instantâneo e bebidas açucaradas, por exemplo, vem sendo, ano após ano, sempre maior que a de alimentos naturais.

De acordo com a plataforma DataSUS, do Ministério da Saúde, até o mês de setembro já foram registradas 3.061 mortes de crianças de 0 a 9 anos por desnutrição no país. No ano passado, aproximadamente 4 mil mortes. Sobre esses números, o nutricionista Alexsandro Wosniaki, conselheiro do CFN e que atua na coordenação da segurança alimentar no município de Araucária, no Paraná, ressalta a necessidade de fortalecer as políticas públicas de alimentação e nutrição, principalmente na alimentação escolar.

“Esses números são inadmissíveis, se pensarmos que estamos em 2021. O Brasil tem o maior programa de alimentação escolar do mundo, que é o PNAE. E este programa não é um resumo da comida servida na escola. Ele movimenta toda a cadeia produtiva da alimentação nos municípios, do campo à mesa. Gera empregos, renda e dignidade para as pessoas. A alimentação na escola alimenta as crianças, jovens e adultos e, também, ensina como se alimentar, com a aplicação da educação nutricional nas unidades escolares. E por isso, nós, nutricionistas, que estamos inseridos nos programas de segurança alimentar e nutricional, estrategicamente, precisamos cobrar dos gestores mais recursos para enfrentar esses graves problemas pelos quais passamos”, conclui.