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POF/IBGE: Pesquisa mostra aumento da fome no Brasil

POF/IBGE: Pesquisa mostra aumento da fome no Brasil

21/09/2020

Números preocupam e pandemia pode ser agravante para a insegurança alimentar, que atingiu 25,3 milhões de domicílios.

Na última quinta-feira (17) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2016-2017), com o resultado de consultas em 68,9 milhões domicílios de todas as regiões do país. Os dados para este estudo foram obtidos a partir da aplicação das perguntas componentes da Escala Brasileira de Medida Direta e Domiciliar da Insegurança Alimentar (EBIA).

O resultado apontou que 36,7% (o equivalente a 25,3 milhões) estavam com algum grau de Insegurança Alimentar (IA): IA leve (24,0%, ou 16,4 milhões), IA moderada (8,1%, ou 5,6 milhões) ou IA grave (4,6%, ou 3,1 milhões).

A pesquisa ainda aponta que, na população residente, estimada em 207,1 milhões de habitantes, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões habitavam aqueles com alguma IA (56 milhões em domicílios com IA leve, 18,6 milhões em domicílios com IA moderada e 10,3 milhões em domicílios com IA grave).

Para a nutricionista Rita Ferreira Frumento, presidente do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN), o resultado é preocupante. “O resultado da POF nos dá a clareza de que – como sempre vínhamos alertando – é necessário ampliar as políticas públicas relacionadas à alimentação e nutrição no país, como uma estratégia perene de promoção da saúde. Num país com tantas diferenças sócio-econômicas e culturais, é preciso estarmos sempre atentos à qualquer sinal de retrocesso em termos de insegurança alimentar. Isso é muito ruim para o país como um todo”, declarou.

Rita Frumento destaca a importância do nutricionista nas estratégias de combate a fome e desnutrição. “Somos mais de 155 mil nutricionistas em todo o Brasil, capacitados para gerir essas políticas de forma eficiente e, também, prestar a devida assistência nutricional ao cidadão, pois a nossa formação nos dá essa condição. Por isso eu conclamo aos gestores, principalmente os governadores e prefeitos, que olhem com atenção para esses números e criem condições para que a mancha da fome e desnutrição seja debelada no nosso país. Os nutricionistas estão aí para enfrentar esse problema, que já tinha sido superado em um passado recente, mas que agora se mostra ameaçador com os resultados dessa pesquisa”, disse.

ÁREA RURAL

Os índices de Insegurança Alimentar foram proporcionalmente mais expressivos nos domicílios na área rural. Nessas regiões, a IA grave foi de 7,1% (676 mil domicílios), acima do verificado na área urbana (4,1%, ou 2,5 milhões de domicílios).

Outro dado importante foi com relação a preparação dos alimentos. O uso de lenha ou carvão foi mais frequente nos domicílios com IA moderada (30%) e IA grave (33,4%). Já o uso de energia elétrica foi mais frequente (60,9%) nos domicílios em SA e menos (33,5%) nos domicílios com IA grave.

NORTE E NORDESTE COM PIORES NÚMEROS

A POF 2016-2017 apontam também que os índices de insegurança alimentar estão diretamente ligados a renda. No estudo, o IBGE apontou as prevalências de SA no Norte (43,0%) e Nordeste (49,7%) indicam que menos da metade dos domicílios dessas regiões tinham acesso pleno e regular aos alimentos. Historicamente, são as regiões com menores índices de renda per capita do país. Os resultados do nordeste e norte são piores em relação aos percentuais de domicílios em estado de segurança alimentar das regiões Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%).

Em entrevista ao Jornal Nacional no último dia 17, a nutricionista Elisabetta Recine, pesquisadora da UNB e ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), extinto em 2019, explicou o quadro e reforçou a importância das políticas públicas no combate a fome. “O conjunto de políticas que configuravam o que a gente chama de rede de proteção social, fundamentais para os resultados positivos, também foi precarizado, ou por redução drástica de orçamento, ou por fragilização das instituições e das equipes que faziam a implementação desses programas. Em 5 anos, regredimos 15”, afirmou.

Com informações do IBGE.