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A vida vale muito mais a pena!

A vida vale muito mais a pena!

26/09/2020

Nesta trilogia, o CFN mostra o papel do nutricionista na prevenção e tratamento de transtornos alimentares, um dos muitos fatores que podem levar indivíduos a cometer suicídio.

Setembro Amarelo, iniciativa que tem como foco a conscientização sobre a prevenção do suicídio. Um dos objetivos é estimular o acesso à informação e ao conhecimento sobre as razões que podem levar alguém a interromper a sua própria vida. Essa intenção aflige pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais e, infelizmente, é mais comum do que se imagina.

Para falar sobre o tema, é necessário superar estigmas de modo ético e responsável, sem preconceitos, tabus e incentivando ações efetivas de prevenção. Saber as principais causas e as formas de oferecer ajuda contribui para reduzir, em qualquer circunstância, os números relacionados ao suicídio.

É um fenômeno complexo e multifatorial. Na maioria das vezes, não envolve uma só causa. Também não é apenas hereditário. Qualquer dor psicológica, antes mesmo de se tornar uma patologia, pode se transformar num estímulo a esse gesto de autodestruição. No entanto, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 90% dos que realizaram o desejo de pôr fim à própria vida já apresentavam sinais de transtorno psicológico/emocional, apesar de essa escolha estar diretamente ligada a momentos pontuais críticos, que poderiam ter sido superados de maneira prévia.

Transtornos psiquiátricos — Entre eles, os principais tipos propensos a ideações e comportamentos suicidas são: depressão, bipolaridade, dependência e abuso de álcool e/ou drogas psicoativas, distúrbios de personalidade (borderline, em especial), esquizofrenia, ansiedade generalizada e desajustamento emocional. Via de regra, aparecem e se desenvolvem em quem sente a necessidade de dar vazão a pressões internas ou externas, entrando posteriormente em processo de sofrimento agudo ou crônico. Para cada uma dessas doenças, a avaliação psiquiátrica é que define o tratamento e a medicação adequados.

No dia a dia, cobranças sociais, familiares, do trabalho ou mesmo individuais — como perfeccionismo e autopunições — podem desencadear crises existenciais e quadros clínicos mais graves. Fatores psicológicos como nervosismo e preocupação exagerada, estresse acentuado, sensação de fracasso, censura, assédio moral, humilhação, abandono, perdas recentes, sentimento de culpa, remorso, falta de sentido na vida, medo, pânico, raiva, ódio, vazio e desespero contribuem, não necessariamente em conjunto, para formar uma cadeia cíclica de aspectos intoleráveis, que podem levar o indivíduo a deliberar sobre sua própria morte.

Daí vem o “estágio da ambivalência”: uma mistura de ideias e sentimentos conflitantes, positivos e negativos, que, combinados, incitam pensamentos e atitudes suicidas, mais comuns em pessoas exaustas e emocionalmente fragilizadas. Em certos casos, ao mesmo tempo que buscam apreço e atenção, têm o desejo de ficar só, desaparecer, fugir para um lugar melhor, alcançar a paz, o descanso ou o fim imediato de seus tormentos.

Essa interação ambivalente, acompanhada por momentos de impulsividade e rigidez de pensamento, dá margem para que aspectos intoleráveis*, mediante estímulo de qualquer acontecimento recente, precipitem o suicídio. Tal ocorrência é a chamada “gota d’água”. O ato extremo resulta de uma crise que, dependendo de cada indivíduo, varia quanto à duração. Alguns conseguem resistir, diferentemente de outros. Destes, muitos estão vivos e agora reforçam ações de valorização à vida.

Fatores de Risco:
* Perspectivas médicas/psiquiátricas
– transtornos mentais/psiquiátricos
– tentativa prévia de suicídio
– histórico familiar
– abuso sexual na infância
– impulsividade/agressividade
– isolamento social
– condição de saúde limitante (dores, doenças crônicas)
– doenças incapacitantes/incuráveis
– alta recente de internação psiquiátrica

* Outros fatores, principalmente em adolescentes:
– transtornos mentais
(depressão, ansiedade, déficit de atenção com hiperatividade)
– transtornos alimentares
– dependência de álcool e/ou drogas psicoativas
– abuso físico e/ou sexual
– impulsividade
– olhar opaco, sem brilho

* Perspectivas psicológicas/sociológicas
– baixa capacidade de resiliência
– idade entre 15-30 anos e acima de 65 anos
– pessoa sem filhos
– solteiros, separados ou viúvos
– moradores de área urbana
– desempregados ou aposentados
– indígenas e moradores de rua
– morte social (fracasso existencial)

* Outros fatores, principalmente em adolescentes:
– camadas mais pobres
– baixa escolaridade
– conflitos de orientação sexual e/ou identidade de gênero
– separação, divórcio ou morte dos pais
– bullying e cyberbullying
– baixa autoestima
– perfeccionismo
– desesperança
– ambiente familiar caótico
– automutilação
– alunos que migram para estudar (polos universitários)

Aspectos intoleráveis:
* Estimulados por acontecimentos recentes, que despertam de modo grave e exacerbado, sentimentos de raiva, humilhação, ansiedade, abandono, ódio, desespero:
– desilusão amorosa
– separação conjugal
– conflitos relacionais, interpessoais
– problemas/pressões familiares e/ou no trabalho
– perda de emprego
– derrocada financeira
– embriaguez
– acesso a algum meio letal
– desonra, vergonha
– rejeição
– principalmente em adolescentes: discussão com os pais, problemas escolares, perda de entes queridos, mudanças significativas na família

Os chamados “fatores de proteção” contribuem para que o indivíduo resista a cometer suicídio. Entre eles, os mais frequentemente perceptíveis são:
* quanto à personalidade:
– orgulho de sua história de vida
– sentimento de valor e respeito pessoal
– confiança em si mesmo
– autoestima elevada
– busca de sentido à vida
– disposição para buscar ajuda
– habilidade para se comunicar
– abertura à experiência alheia
– flexibilidade
– capacidade para resolução de problemas

* quanto à família:
– pais presentes e dedicados
– bons relacionamentos com familiares próximos
– ter criança em casa
– senso de responsabilidade

* socioculturais:
– adesão a valores e normas
– boas amizades
– apoio de pessoas relevantes, de referência para o indivíduo
– amigos que não usam drogas
– uso construtivo do tempo de lazer
– apoio espiritual-ecumênico
– crenças étnicas e religiosas
– integração social: trabalho, igreja, esporte, escola, universidade
– envolvimento comunitário

* ambientais:
– qualidade de sono satisfatória
– atividade física
– estar empregado
– acesso a serviços e cuidados de saúde mental
– acesso a terapias alternativas: meditação, yoga, acupuntura, auriculoterapia, cromoterapia, aromaterapia, reiki
– alimentação adequada e saudável
– contato com a natureza

Texto de Rafael Ortega, com colaborações.

* Com informações apresentadas no Curso de Prevenção e Posvenção do Suicídio, realizado de 20 a 22 de setembro de 2019, em Brasília. Ministrado pelo psicólogo, psicoterapeuta e doutor em Psicologia Clínica e Cultura, Carlos Henrique de Aragão Neto.