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Formação profissional do nutricionista para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS)

Formação profissional do nutricionista para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS)

11/06/2015

Dando continuidade a temática de Formação profissional do nutricionista para a atuação no Sistema Único de Saúde (SUS), a RedeNutri conversou com a Comissão de Formação Profissional do Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) e com a nutricionista e educadora Maisa Beltrame Pedroso (SES/RS), sobre experiências de renovação curricular nos cursos de Nutrição e avanços e boas práticas de articulação entre as entidades de Nutrição e as instituições de ensino superior.
Na sua opinião, quais são os atuais desafios para a formação do Nutricionista para o Sistema Único de Saúde?
Comissão de Formação Profissional/CFN: O principal desafio é o apelo mercadológico dos cursos inseridos em empresas do setor privado de educação. Para “vender ” estes cursos aos candidatos, estas IES elencam um conjunto de componentes curriculares que priorizam a inserção do nutricionista em áreas de nutrição esportiva, tecnológica, de nutrição clínica com vistas à uma pratica profissional liberal, entre outros, às custas de componentes curriculares fundamentais para entender a constituição e instituição, operacionalização, financiamento e estratégias do SUS, em especial na Atenção Primária em saúde.
Assim, a questão da matriz curricular reflete um paradigma neoliberal da profissão, sem oferecer os fundamentos que são pilares da compreensão do nutricionista como ator social em defesa do SUS. Componentes curriculares como sociologia, antropologia, economia política, comunicação e outras das Ciências Sociais dão lugar às especializações como Fitoterapia, Nutrição Esportiva, Gastronomia. Quando se examina os conteúdos destes componentes curriculares a situação piora, o caráter biologicista da formação torna -se mais evidente.
Não tenho dúvida quanto à insuficiência de carga horária nas 3200 horas mínimas exigidas, que a maioria dos cursos praticam. Outra questão fundamental é na maioria dos casos, um visível distanciamento do cenário de práticas afeto ao SUS. A maioria dos cursos preferem implantar clínicas próprias como fator de excelência do curso, desconectando os estudantes das perspectivas de interdisciplinaridade, de atenção integral, de contato com as realidades sociais determinantes da situação de saúde, na contramão do que vem acontecendo com a atenção primária em saúde no âmbito do SUS, que exige um profissional cada vez mais integrado às estratégias de atenção do SUS.
Maisa Beltrame Pedroso: A Constituição de Fóruns que possibilitem maior diálogo entre instituições formadoras, gestores do sistema de saúde e representantes do controle social para definir os caminhos que a formação deve percorrer para atender às necessidades do SUS.
Um desafio importante é a transformação do processo de formação e das práticas de saúde e a dificuldade de superação dos currículos organizados por disciplinas e centrados em conteúdos em detrimento da aquisição de conhecimento para atingir a competência desejada. A superação das abordagens tradicionais e a necessidade de metodologias de aprendizagem ativa para tratar os problemas da realidade
Quais avanços e boas experiências podem ser identificados na formação profissional do nutricionista?
Comissão de Formação Profissional/CFN: Os avanços se relacionam à flexibilização dos currículos, permitindo às poucas instituições que não aderiram ao modelo hegemônico neoliberal acima descrito, desenvolver experiências positivas em metodologias inovadoras de ensino-aprendizagem, de atividades extramuros, e imersão em cenários de práticas. A integração dos componentes curriculares vertical e horizontalmente, bem como a possibilidade de inclusão de temáticas específicas como saúde do indígena, da população negra, do homem adulto e idoso.
Há cursos que em suas reformas curriculares buscaram priorizar especificamente uma formação voltada para a atuação no SUS, quase sempre em instituições que não têm que disputar os estudantes com outras IES, pois os atrativos dos cursos quase sempre são os nomes das IES envolvidas, e o caráter público dos cursos.
Maisa Beltrame Pedroso: Já houve avanço no apoio técnico e financeiro para o desenvolvimento das mudanças na formação que adotem expressamente a orientação para o SUS, como por exemplo, os Programas Pró-saúde e PET saúde, além do desenvolvimento de currículos integrados já existentes no país.

  • Comissão de Formação Profissional é uma comissão permanente que integra a Comissão de Avaliadores do CFN, com finalidade de acompanhar e assessorar o processo de formação do profissional de Nutrição, visando orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício profissional. Em 2012, o Conselho Federal de Nutricionista (CFN) criou a Comissão de Avaliadores no âmbito do Sistema CFN, por meio da Resolução CFN nº 519/2012.
  • Profa. Dra. Maisa Beltrame Pedroso possui graduação em Nutrição. Mestrado e Doutorado em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Atuou na elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Nutrição. Membro da Comissão de Avaliação das Condições de Ensino da área de Nutrição do INEP/MEC entre 2003 e 2005. Atualmente é especialista em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde do RS.